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29 de março de 2012

MDNA: a droga que vale a pena

Em trinta anos de carreira, Madonna desenhou uma linha tênue entre arte e marketing. A menina que no fim da década de oitenta chocou a mídia com o vídeo de “Like a Prayer”, falou o que tinha para falar sobre religião e amor em um de seus álbuns mais aclamados. Não bastou naquela época a cantora expor suas crenças religiosas, decidiu também falar de sua família: a convivência com seu pai, a saudade de sua mãe e um amargo divórcio com o ator Sean Penn. Sentindo assim uma inclinação para tratar sobre o feminismo. Feminismo este que seria tratato em seu, então, próximo álbum, Erotica.
Sob o disfarce de Dita Parlo, atriz dos anos 30, Madonna preside Erotica com o chicote na mão e língua plantada firmemente na bochecha. Se essa imagem parecia agressiva, até este ponto, sua música estava quente e convidativa para cantar em pró do feminismo, dos gays e da liberdade de expressão.
Anos depois, no final da década de 90, Madonna desperta para sua maternidade e sua espiritualidade às notas musicais sob produção de William Orbit. E por essas e outras, não é à toa que ela é conhecida como a Rainha do Pop.
Dessa vez ela está de volta com seu novo álbum: MDNA. Um anagrama simples que sintetiza o peso de seu nome. Fácil de lembrar, com trocadilhos feitos pelos fãs como Madonna’s DNA ou a sigla MDMA (como é conhecido o ecstasy, na Europa). Mas ao ouvir o álbum, a mensagem é clara: MDNA é o DNA de Madonna puro em letra e na maioria de sua essência musical, com produção a cargo de: Orbit, Martin Solveig, Benny Benassi e Demolition Crew.

O álbum é introduzido com a canção “Girl Gone Wild”, produzida pelo italiano Benny Benassi, durante a qual Madonna recita um ato de contrição sobre um violino criado por sintetizadores. É apenas uma introdução bastante interessante e um ótimo artifício reminiscente de “Like a Prayer” a “Confessions on a dancefloor”. Com uma batida que não foge do convencional, "Girl Gone Wild" tem apenas a relevância que tem por estar na voz de quem está, mas poderia ser interpretada por qualquer outra pessoa.

Para tratar dos assuntos mais pessoais, depois de mais de uma década, e com um trabalho tão pessoal como MDNA, a participação de William Orbit não poderia ficar de fora, já que a química musical entre os dois ficou registrada em dois álbuns, Ray of Light e Music, para explorar seus pensamentos mais íntimos e analisar os restos de seu segundo casamento. Guitarra e violão fraturados, umas das marcas do produtor, chamam toda a atenção em “I’m a Sinner”. E o vocal de Madonna em “Love Spent” é suficientemente confiante para transcender a originalidade da música. Não é só uma das músicas mais sofisticadas do álbum, é também uma das mais relevantes. "I want you to take me like you took your money," ela anseia.

O impacto sobre o divórcio com Guy Ritchie é claramente óbvio na construção das letras e também na melodia. Tiros e mais tiros de armas de fogo em “Gang Bang” e vontade de vingança.  A melodia ainda serve como lembrete de que o que separa Madonna da maioria das outras estrelas da música pop é sua vontade de experimentar coisas novas.
Mas, em “I Fucked Up”, Madonna mostra-se arrependida por erros cometidos em um relacionamento. E assim, como todo ser humano é contraditório com relação aos seus sentimentos quando “relacionamentos conturbados” é o assunto. Madonna descreve, na música produzida por Martin Solveig, suas maiores falhas no seu relacionamento e questiona se um dia é capaz de reatar com o personagem da estória.

A ironia de Madonna também está bastante afiada. Como em “Give me all your luvin’”, com participação das rappers Nicki Minaj e M.I.A., onde a cantora manda um recado a todas as cantoras do mainstream da atualidade: “Eu sou um tipo de garota diferente – E vocês, quem são?”.  Em “I Don’t Give A”, outra canção do álbum com participação de Minaj, onde Madonna diz estar nem aí para opinião alheia. Cá entre nós, uma mulher de 53 anos está pouco ligando para o que os outros pensam, não é mesmo? Com uma batida um pouco r’n’b progressivo, assim digamos, essa canção é tudo que o Hard Candy deveria ter sido.

Músicas como “I’m addicted”, “Some Girls”, e “Turn Up the Radio” são cativantes mas que acabaram não sendo distintas. Por outro lado, em “Falling Free”, o álbum termina culminando com a voz limpa, meiga e bela de Madonna a belíssimos acordes de violinos.

Diante de tanta inovação e contribuição a cultura pop, ao longo de sua carreira, é naturalmente cobrado de Madonna algo novo, algo jamais visto e ouvido, o que é somado a sua inteligência e senso artístico fora do comum a escolha de produtores desconhecidos em seus trabalhos. E tudo isso é somado a um desespero por qualquer coisa nova que possa vir a aparecer na mídia e um mercado carente de rostos novos na cena da pop music. Mas quem disse que Madonna não pode resgatar e remexer seu próprio baú? Se a cena dance já está tão ascendente no mercado musical como está hoje, o que Madonna fez foi apenas lapidar e melhorar o que já existe, em seu novo projeto. E fez tudo isso com a cara dela.
Para quem interessar os números, até o momento em que escrevi essa resenha, MDNA é um sucesso de vendas! Na pré-venda do álbum na internet, pelo iTunes, dois milhões de pessoas compraram o álbum sem nem adivinhar o que poderiam encontrar pela frente, e no dia de seu lançamento, 26/03, o álbum atingiu o número #1 em 40 países. Em apenas dois dias, o álbum já é disco de platina no Brasil.

Aos fãs da Rainha que reprovaram seu último trabalho, digo: sintam-se recompensados! MDNA é uma ótima surpresa que vale muito a pena! MDNA é o álbum que dá continuidade ao seu legado! A mesma mulher que cantou a força feminina há 20 anos atrás, mostra que ainda mantém firme seu pensamento coerente!
Encerro esse texto fazendo minha as palavras de Nicki Minaj em “I Don’t Give A”: There’s only one Queen, and that’s Madonna, bitch.

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